segunda-feira, 8 de agosto de 2011

FHC: O 'DILEMA' DE DILMA COM O DE OBAMA!



Fernando Henrique Cardoso estabelece, em artigo, uma conexão entre o drama político de Dilma Rousseff e a encrenca econômica de Barack Obama.


Acha que “Dilma está aprisionada em um dilemma do gênero daquele que agarrou Obama.” Com uma diferença:


“Se no caso americano a crise apareceu como econômica para depois se tornar política, em nosso caso ela surgiu como política, mas poderá se tornar econômica.”


Aqui, você encontra a íntegra do artigo do grão-tucano. No arremate, FHC insinua que Dilma precisaria “refazer os sistemas de alianças”.


Qem lê fica com a impressão de que o autor do texto oferece parceria. Vai abaixo a metade final do texto:





“…Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama



E nós aqui nesta periferia gloriosa a quantas andamos? Longe do olho do furacão cantamos glória pelo que fizemos, pelo que de errado os outros fizeram e pelo que não fizemos, mas, pensamos, pouco importa, o vendaval do mundo varreu a riqueza de uma parte do globo para outra e nos beneficiou.



Será que é assim mesmo? Será que a proeza de evitar as ondas do tsunami impede que a malignidade do resto do mundo nos alcance? Tenho minhas dúvidas.



Falta-nos, como impuseram os reacionários americanos a Obama, uma agenda, mas que seja nova e não a desgastada do “clube do chá” americano.



A nova agenda existe, está exposta cotidianamente pela mídia e não é propriedade de um partido ou de um governo.



Mas onde está a argamassa, como o antigo ideal americano, para conter as divergências, o choque de interesses, e guiar-nos para um patamar mais seguro, mais próspero e mais coeso como nação?



Mal comparando, a presidenta Dilma está aprisionada em um dilema do gênero daquele que agarrou Obama. Só que, se no caso americano a crise apareceu como econômica para depois se tornar política, em nosso caso ela surgiu como política, mas poderá se tornar econômica.



Explico-me: a presidenta é herdeira de um sistema, como dizíamos no período do autoritarismo militar.



Este funciona solidificando interesses do grande capital, das estatais, dos fundos de pensão, dos sindicatos e de um conjunto desordenado de atores políticos que passaram a se legitimar como se expressassem um presidencialismo de coalizão no qual troca-se governabilidade por favores, cargos e tudo mais que se junta a isso.



Esta tendência não é nova. Ela foi-se constituindo à medida em que o capitalismo burocrático (ou de estado, ou como se o queira qualificar) amealhou apoios amplos entre sindicalistas, funcionários e empresários sedentos por contratos e passou a conviver com o capitalismo de mercado, mais competitivo.



Na onda do crescimento econômico as acomodações foram se tornando mais fáceis, tanto entre interesses econômicos quanto políticos (incluindo-se neles os “fisiológicos” e a corrupção).



No início parecia fenômeno normal das épocas de prosperidade capitalista que seria passageiro. Pouco a pouco se foi vendo que era mais do que isso: cada parte do sistema precisa da outra para funcionar e o próprio sistema necessita da anuência dos cooptáveis pelas bolsas e empregos de baixo salários e precisa de símbolos e de voz. Esta veio com o “predestinado”: o lulismo anestesiou qualquer crítica não só ao sistema mas a suas partes constitutivas.



É neste ponto que o bicho pega. A presidenta é menos leniente com certas práticas condenáveis do sistema. Entretanto, quando começa a fazer uma faxina quebram-se as peças da engrenagem toda.



Sem leniências e cumplicidades entre as várias partes, como obter apoios para a agenda necessária à modernização do país?



E sem ela, como fazer frente à concorrência da China, à relativa desindustrialização, ou melhor, ‘desprodutividade’ da economia e como arbitrar entre interesses legítimos ou não dos que precisam de mais apoio do governo, advenham eles de setores populares ou empresariais?



É cedo para prever o curso dessa história, que apenas começa. Mas não há dúvidas que para se desfazer da herança recebida será preciso não só ‘vontade política’ como, o que é tão difícil quanto, refazer os sistemas de alianças. É luta para Davis e, no caso, Golias é pai de Davi.”



Fonte: Blog Josias de Souza

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