segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

CANGAÇO

Neta lança estudo 
sobre Maria Bonita


Nascida e criada na Malhada da Caiçara, no sertão baiano, Maria de Déa foi destinada ao casamento, celebrado em plena adolescência, e a uma vida pacata. 

Aos 16 anos, casaram-na com o sapateiro Zé de Nenê, mas o lar do casal, que foi morar no povoado de Santa Brígida, ali perto, logo desmoronou, segundo as más línguas porque o varão era pacato demais para a inquietação fabril da mulher. 

Além do mais, o marido era estéril e a diferença de temperamento gerou conflitos que levavam o par a se separar e se reconciliar até o dia em que, no fim de 1929, cruzou a soleira dos pais dela, Zé Filipe e Dona Déa, o temível Rei do Cangaço no sertão, Virgolino Ferreira da Silva, o Lampião, aos 32 anos.
O chefe de bando era vingativo, cruel e destemido, mas também tinha lá seus laivos de herói romântico. 

Dos saques das fazendas dos ricaços do sertão furtava perfumes franceses de boa cepa e o melhor uísque escocês.
Ao relento nos acampamentos no zigue-zague das fugas para escapar da perseguição policial, puxava um fole de oito baixos e a ele foi atribuída a autoria de um dos maiores sucessos do cancioneiro sertanejo e nacional, "Muié Rendeira".

Não era de estranhar que fizesse corte à morena e começou por lhe encomendar que bordasse suas iniciais CL (Capitão Lampião) em 15 lenços de seda, o que permitiu a abordagem e, depois, serviu de pretexto a novo encontro, que terminou com a retirada da morena separada do marido da casa dos pais. 

Foi, então, que a beleza da escolhida do Rei lhe deu a alcunha com que morreu na Grota do Angico, Sergipe, ao lado do amante, e que se fixou na memória do povo: Maria Bonita.

Expedita, filha do casal real da caatinga, criada no Estado em que os pais morreram, Sergipe, sobreviveu à carnificina e gerou, entre outros filhos, Vera Ferreira, que, professora universitária em Aracaju, tem mantido viva a memória dos avós e empreendeu obra de vulto para comemorar o centenário da avó.
Bonita Maria do Capitão, editado pela Universidade do Estado da Bahia, será lançado amanhã em São Paulo, na Livraria da Vila.
 
O volume de 328 páginas, organizado pela neta, jornalista e escritora, com a cumplicidade da desenhista paraibana Germana Gonçalves de Araújo, reproduz o legado da personagem lembrada pelos caprichos e vontades, mas também pelo bom humor e descontração quase infantil, com esmero e bom gosto.
 
A aventura da menina que saiu de casa aos 19 anos para percorrer o sertão nordestino a pé num bando de cangaceiros até tombar, aos 27, tem sido narrada em prosa, verso, imagem e som.
 
O casal, evidentemente, foi tema de muitos romances de cordel.
Num deles, Saboia, chamado de Marechal de Cordel do Cangaço, registrou: 
 
 
"Cupido fez passatempo /
com Maria e Lampião/ 
ela Rainha ele Rei /
governou nosso sertão /
cangaço e amor viveu /
não foi uma ilustração". 
Rouxinol do Rinaré e Antônio Klévisson Viana versejaram: 
"Maria Gomes de Oliveira /
amou muito a Lampião /
decidiu ser a primeira /
cangaceira do sertão /
ignorando o destino /
acompanhou Virgolino /
pela força da paixão". 
 
 
O livro reproduziu a capa de um cordel de Sávio Pinheiro sob título "O Arranca-rabo de Yoko Ono com Maria Bonita ou A Desaventura de John Lennon e Lampião", editado em 2008.

A beleza de Maria, mostrada em foto e cinema por Benjamin Abrahão, fascinou artistas plásticos como Mino e virou tema obrigatório de xilogravadores como J. Borges, Mestre Noza, J. Miguel e Marcelo Soares. 

Suas peças de vestuário e as joias que usava foram reproduzidas no livro, que também se refere à peça de Rachel de Queiroz sobre ela e a filmes do gênero dito nordestern, que a adotaram como personagem.

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